Depois do episódio com Bernardo eu nem sabia, mas deveria me acostumar, seria um tropeço seguido do outro. Os meus dentes da frente cresciam em proporções assustadoras o que me fez ganhar um apelido muito carinhoso dos meninos: coelhão.
Não podia ser mais ameno. Eu lembro de nome e sobrenome do dito cujo que começou com o apelido: Bruno Souza.
Ele era um menino repetente, por isso mais velho, por isso respeitado pela turma toda, toda sua maldade era vista com muita admiração pelos colegas. Eu estava na sexta série B e foi nessa época que Mariano e Tomás encalharam na minha vida. O Bernardo ainda estava na turma, mas eu tinha me cansado das suas exibições. Foi nessa época que eu e todas as minhas amigas nos apaixonamos por Henrique. Ele era um menino tímido, e havia alguma coisa diferente nele. Não era arrogante e não ficava falando abertamente o quanto as meninas mais velhas da oitava série eram lindas. Eu lembro que quando elas iam fazer trabalho a tarde no nosso colégio os meninos ficavam eufóricos e nós, claro não restava outra coisa a não ser sentir inveja. As meninas da oitavam tinham cintura fina, peitos enormes e cabelos cumpridos. O Henrique fugia do padrão e acompanhava discretamente as aulas sem as piadas idiotas que Bernardo, Mariano, Tomás e Bruno Souza faziam.
Foi nessa época também que descobri que era péssima em matemática, péssima também em outras matérias como ciências, geografia, português e tudo o mais que exigisse que eu me sentasse e concentrasse.
Eu estava apaixonada e nada mais me importava. De vez em quando rolavam as festinhas americanas na casa da Gabi, as meninas levavam salgadinhos e os meninos refrigerante e tinha a tal da dança da vassoura. Super-constrangedor.Eu em lembro bem de segurar a vassoura muitas vezes, nenhum príncipe me tirou para dançar, e nem tão cedo eu ia receber um pedido de namoro. Foi nessa época que aconteceu o primeiro beijo. Eu estava na casa da Iara ( inspirada na Betina), que era irmão do Mariano
(inspirado no Mariano mesmo). Ele sempre levava os amigos para passar o fim de semana na casa dele. Eu e Iara nos escondíamos e seguíamos todos os passos deles, eles eram todos mais velhos porque o Mariano era um repetente que ainda mantinha contato com os meninos mais velhos e eles todos se reuniam para jogar RPG. Eu e Iara tentamos entrar algumas vezes nessa história de RPG mas éramos péssimas porque não tínhamos capacidade mental para seguir a lógica de uma vampira, no jogo todos eram vampiros. Eu era sempre a mais desprovida de força, competência, dons etc , essas coisas que os vampiros devem ter para vencer o jogo. Era tudo muito tenso para mim estar naquela roda de pessoas mais velhas e certamente muito melhores do que eu e minha amiga. Teve um episódio em que Mariano e seus amigos nos amarraram com cordas e nos deixaram no quarto de castigo. Entre umas e outras provocações maldosas eu e Iara esquecemos qualquer possibilidade de conquistar os amigos mais velhos e lindos do Mariano.
Mas se éramos consideradas pirralhas por eles, éramos idolatradas pelos amigos do irmão mais novo dela. E aos 11 anos resolvemos colocar em prática a malícia feminina.
Foi muito simples e maquiavélico: eu, Iara e Clarisse decidimos que daquele fim de semana não ia passar. Não queríamos mais ser umas BV’s ( boca virgem) fracassadas e sem reputação.
Fizemos uma reunião e escolhemos como vítimas o irmão mais novo da Iara e seus amiguinhos. Se nós tínhamos 11, eles deveriam ter nove! Que absurdo. Jogamos abertamente, paramos na frente deles que estavam brincando de carrinho e perguntamos se eles queriam deixar de ser BV’s e ainda usamos o tom de “estamos fazendo uma boa ação seus pirralhos, porque nós somos muito experientes e vividas”. Coitado dos meninos, nem espinha eles tinham. Eles não tinham alternativa a não ser provarem ser machos aos nove anos de idade, os meninos são condicionados a provar sua masculinidade desde que saem da barriga da mãe, seja estimulados pelo pai, pelos amigos da escola, é pressão atrás de pressão. Nós estávamos ali, só adiantando o momento. É que também éramos pressionadas a não ser meninas BV’s. Então foi assim, um beijo torto, sem língua, sei lá. Sem batidas cardíacas aceleradas.
Eu tinha onze anos e tinha dado meu primeiro beijo.
Eles acharam o máximo, e nós mais ainda. Esse episódio rendeu muitas risadas, mas o primeiro beijo não teve nada de som de sinos ao fundo, nada de mágico. Ainda sofríamos apaixonadas, ainda sofreríamos muito, mas muito mais do que poderíamos imaginar, mas claro, sem perder o humor. Isso nunca! E foi sem dúvida a melhor fase da minha vida.

Prédateur, seu comentário foi meio nebuloso e suspeito. É péssimo ouvir que uma pessoa com pensamentos tão aguçados, cheio de humor tenha tanto medo. Todos nós temos, mas.
Pelo menos que bom não está com H1N1